ATA DA VIGÉSIMA QUINTA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 10.10.1995.

 


Aos dez dias do mês de outubro do ano de mil novecentos e noventa e cinco reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às dezessete horas e trinta e quatro minutos, constatada a existência de "quorum", o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, destinada a homenagear o dia da Hispanidade e a entrega do Título de Cidadão Emérito ao Professor Pedro Câncio da Silva, de acordo com o Requerimento nº 213/95 (Processo nº 1964/95), de autoria do Vereador Wilton Araújo e aprovado pelo Plenário. Compuseram a Mesa: Vereador Airto Ferronato, Presidente desta Casa, Senhor Iñigo de Palácio España, Cônsul Geral da Espanha em Porto Alegre, Senhor Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, representando o Senhor Procurador Geral da Justiça, Senhor Pedro Câncio da Silva, Homenageado, e sua esposa, Senhora Dinorah Fraga da Silva, Professor Sérgio Nicolaiewsky, Reitor em exercício da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Senhor Daiçon Maciel da Silva, Secretário Substituto da Secretaria Estadual do Trabalho, Cidadania e Assistência Social. E como extensão da Mesa, o Senhor Presidente citou as presenças das seguintes pessoas: Senhora Maria Obdúlia Fayos Garcia, Diretora do Centro Cultural Brasil-Espanha, Senhor Jorge Gimenez, Coordenador do Centro Cultural Brasil-Espanha, Senhora Lívia Fraga da Silva e Senhores Maurício Fraga da Silva e Paulo Fraga da Silva, filhos do Homenageado, Senhora Regina Martins, representando a Secretaria Estadual da Cultura, Senhor Félix Garces, representando o Conselho de Residentes Espanhóis e Senhora Antonieta Baroni, Diretora da Aliança Francesa. Após, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Wilton Araújo, em nome das Bancadas do PDT, PT, PMDB, PSDB, PP, PPS e PTB, discorreu sobre a trajetória pessoal do Senhor Pedro Câncio da Silva, dizendo que a sociedade reconhece nele um exemplo a ser seguido. Referiu-se, também, ao dia da Hispanidade, salientando que esta não possui fronteiras. O Vereador Reginaldo Pujol, em nome das Bancadas do PFL e PPR, ressaltou o espírito de integração, de solidariedade humana que se materializam na presente homenagem através do Senhor Pedro Câncio da Silva e da maravilhosa cultura espanhola. A seguir, o Senhor Presidente convidou o Vereador Wilton Araújo para que entregasse o Diploma alusivo ao Título ora outorgado ao Senhor Pedro Câncio da Silva, concedendo, logo após, a palavra a Sua Senhoria que agradeceu por esta homenagem a todos os presentes e à Casa. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Iñigo de Palácio España, que destacou o significado da hispanidade, agradecendo a presente homenagem. Às dezoito horas e vinte minutos, nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente declarou encerrados os trabalhos, agradecendo a presença de todos e convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Airto Ferronato e secretariados pelo Vereador Wilton Araújo, 3º Secretário. Do que eu, Wilton Araújo, 3º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1º Secretário e Presidente.

 

 

 


(Obs.: A Ata digitada nos Anais é cópia fiel do documento original.)

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Airto Ferronato): Estão abertos os trabalhos da Sessão Solene destinada a homenagear o Dia da Hispanidade e entregar o Título de Cidadão Emérito ao Prof. Pedro Câncio da Silva, através do Requerimento nº 213/95, de autoria do Ver. Wilton Araújo.

Convidamos para compor a Mesa: o Sr. Cônsul Geral da Espanha em Porto Alegre, Sr. Iñigo de Palácio España; o representante do Sr. Procurador Geral da Justiça, Dr. Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves; o Sr. Pedro Câncio da Silva e a Senhora Dinorah Fraga da Silva, nossos homenageados; Sr. Prof. Sérgio Nicolaiewsky, Reitor em exercício da UFRGS; e o Sr. Secretário Substituto da Secretaria do Trabalho, Cidadania e Assistência Social, Dr. Daiçon Maciel da Silva.

A Câmara Municipal de Porto Alegre, na tarde de hoje, tem a satisfação de realizar essa Sessão Solene que homenageia o Dia da Hispanidade e procede à entrega do Título de Cidadão Emérito ao Prof. Pedro Câncio da Silva. A Câmara, através de uma decisão que adotou em 1992, onde cada Vereador poderia apresentar por período legislativo apenas uma Sessão Solene, quando se adotou essa medida ela buscou representar a valorização que cada vez mais se dá aos eventos aqui realizados. Se cada Vereador escolhe um momento, uma data, uma personalidade para reverenciar, isto representa a importância que esta data ou que esta pessoa representa para a Cidade de Porto Alegre. A Cidade está festejando e homenageando esses dois eventos numa tarde importante, que é o Dia da Hispanidade, em primeiro lugar pelo relacionamento que Porto Alegre tem com a Espanha e, em segundo lugar, pelo relacionamento importante que nós temos, enquanto Vereadores, enquanto Câmara, com as nossas autoridades que representam a Espanha aqui, em Porto Alegre. Daí a importância de registrarmos, com satisfação, dentre tantas autoridades, o nosso ilustre Cônsul. No momento em que nós homenageamos o Dia da Hispanidade, entregamos um título de Cidadão de Porto Alegre, que também é importante para nós, porque Porto Alegre se sente representada e valorizada pelo trabalho que o nosso homenageado prestou à Cidade. O processo de entrega do Título de Cidadão de Porto Alegre ao Prof. Pedro Câncio da Silva foi aprovado por unanimidade, e a autoria do processo é do Ver. Wilton Araújo, e também a Sessão para homenagear o Dia da Hispanidade foi proposta pelo Ver. Wilton Araújo.

Como extensão da Mesa, nós citamos as presenças da Sra. Maria Obdúlia Fayos Garcia, Diretora do Centro Cultural Brasil/Espanha; do Sr. Jorge Gimenez, Coordenador do Centro Cultural Brasil/Espanha; Lívia Fraga da Silva, Maurício Fraga da Silva, Paulo Fraga da Silva, filhos do Prof. Pedro Câncio da Silva; da Sra. Regina Martins, representando a Secretaria da Cultura do Estado do Rio Grande do Sul; do Sr. Félix Garces, representando o Conselho de Residentes Espanhóis; da Sra. Antonieta Baroni, Diretora da Aliança Francesa, e dos professores da nossa Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Com a palavra, o Ver. Wilton Araújo, que fala como proponente e pelas Bancadas do PDT, PT, PMDB, PP, PPS e PSDB.

 

O SR. WILTON ARAÚJO: Sr. Presidente. (Saúda os componentes da Mesa e demais presentes.) É com honra que, nesta cerimônia de grande importância para a Cidade de Porto Alegre, represento as bancadas, não só a minha, a do PDT, como também as do PT, PMDB, PP, PPS - Ver. Lauro Hagemann, aqui presente - e PSDB.

(Lê.)

"Reúne-se a Casa do Povo da Capital gaúcha na tarde de hoje para assinalar o transcurso, no próximo dia 12, do Dia da Hispanidade, bem como para receber como Cidadão Emérito de Porto Alegre o eminente Prof. Pedro Câncio da Silva.

A coincidência destas duas homenagens não é obra do acaso. O sentimento da hispanidade, traduzido a partir do encontro de dois mundos, desenvolveu-se transcendendo os aspectos de nacionalidade, de raça e de território para consagrar-se como verdadeiro sentimento de solidariedade dos povos que se incorporaram, através da Espanha, à cultura européia da Idade Moderna. Assim, a hispanidade se articula em torno de valores espirituais, sobressaindo-se do panorama de todos os sentimentos nacionais formados no século XIX que tiveram como elementos essenciais os conceitos de sangue e cultura. Desta forma, demostram os povos hispânicos que entendem, mais do que ninguém, a grandeza espiritual e intelectual gerada a partir do Império Espanhol, justamente quando este deixou de se constituir em realidade material.

Mas o sentimento de hispanidade não se revela apenas retoricamente. Além do seu sentido espiritual e cultural, igualmente traduz-se através de ações concretas, destinadas a impulsionar o desenvolvimento e o progresso econômico, visando à aproximação cada vez maior dos povos integrados neste sentimento.

Fazemos este registro num momento espetacular da vida da América Latina, exatamente quando o Brasil, único país de língua não-espanhola deste Continente, juntamente com vários outros países latino-americanos - estes, sim, integrados ao sentimento da hispanidade -, busca a superação das fronteiras e barreiras culturais com vistas à aproximação de povos que possuem história, dificuldades a serem vencidas e esperanças muito próximas entre si, que os impulsiona a traçar um destino comum para enfrentar o futuro. Este aspecto por si só justifica a oportunidade de registrarmos, nesta Casa, o transcurso da data da hispanidade, pois igualmente estamos ligados aos povos hispânicos por um grandioso espírito de fraternidade e identidade cultural.

Mas, senhoras e senhores, dizia, ao início, que a coincidência das homenagens que hora fazemos não era obra do acaso e que, juntamente com a data magna celebrada pelos povos hispânicos, homenagearemos um ilustre professor, o qual dedica a sua vida à honrosa tarefa de ensinar os idiomas, especialmente a língua e a literatura espanhola, num verdadeiro apostolado da aproximação dos povos."

E hoje aqui está presente com a sua família, que muito nos honra. Os seus filhos Maurício, Paulo e Lívia estão aqui trazendo o pai e reconhecendo nele o exemplo que a sociedade reconhece hoje. Certamente eles traçarão o caminho a exemplo dessa trajetória tão dignificante para Porto Alegre, para o Estado e para o Brasil. Vocês têm sorte.

"Pedro Câncio da Silva nasceu em Uruguaiana em 1937. Naquela cidade efetuou estudos básicos e, em 1969, graduou-se na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, obtendo o título de Licenciado em Português e Literaturas Portuguesa e Espanhola e Literatura de Língua Espanhola. Em 1973 obtém o título de Licenciado em Grego e Literatura Grega.

Sua especialização já aponta a inclinação pela língua de Cervantes: em Madri, no Instituto de Cultura Hispânica, obtém os diplomas de Especialização em Filologia Espanhola e em Educação Moderna. Junto à Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul obtém pós-graduação em Lingüística e Letras e Especialização e Teoria Literária.

Desde 1969 exerce o magistério de língua portuguesa, língua espanhola e literatura em diversos estabelecimentos de ensino. A partir de 1975 passa a ocupar o cargo de professor de Língua Espanhola e Literatura de Língua Espanhola do Departamento de Línguas Modernas do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Em sua atividade junto à Universidade Federal desenvolveu intenso e profícuo trabalho, havendo exercido o cargo de Chefe do Departamento de Línguas Modernas de 1989 até março do corrente ano.

A densa formação acadêmica do Prof. Pedro Câncio, aliada à sua reconhecida capacidade, tornou-o requisitado em diversas outras atividades, tais como integrante das bancas examinadas de diversos concursos, dentre os quais os promovidos pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul para o cargo de Professor Auxiliar de Língua e Literatura Espanhola.

Sua dedicação e preocupação com a integração dos povos levou-a proferir inúmeras palestras e conferências acerca da importância do ensino da língua e literatura espanhola. Sua capacidade profissional destacou-se na coordenação de cursos, congressos, colóquios e semanas de estudos sobre literatura, metodologias e técnicas para o ensino do espanhol.

Outro aspecto revelador do reconhecimento ao seu trabalho foi o convite para elaborar o 'Currículo da Habilitação Português-Espanhol' do Departamento de Línguas da Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras de São Borja.

Participa também de diversas associações culturais, tais como a Associação dos Professores de Espanhol no Estado do Rio Grande do Sul, da qual é sócio fundador e primeiro Presidente, do Conselho Rio-Grandense de Professores de Espanhol, da Associação Brasileira de Literatura Comparada e do Instituto Internacional de Literatura Comparada, nos Estados Unidos.

Quem pensa que todas estas atividades exercidas com amor ocupam integralmente o tempo do Prof. Câncio engana-se redondamente. A par da atividade acadêmica, está a do autor. Publicou diversos trabalhos, tais como 'A moral pedagógica de a Ilha Perdida', na Revista 'Letras de Hoje', e 'Propostas alternativas para preparação de docentes de Língua Espanhola no Brasil'. Organizou as coletâneas 'Língua, Literatura e a Integração Hispano-Americana' e 'Descobrimentos e desconhecimentos: 50 anos de América' e traduziu 'Lazarilho de Tormes'.

Desenvolve atualmente, junto à Universidade de São Paulo - a USP, o Mestrado em Literatura Espanhola Hispano-Americana.

Estas breves referências, senhoras e senhores, dentre as muitas mais que  poderiam ser feitas, nos dão a dimensão da importância da pessoa e da atividade do nosso homenageado para a cultura. Com perseverança e humildade, vem contribuindo para o alargamento dos horizontes que tornam os povos mais próximos e mais fraternos na jornada da existência através daquele que talvez seja o mais importante dos ofícios, que é o de ensinar.

E é em vista do reconhecimento deste dignificante trabalho que a Casa do Povo de Porto Alegre oferece esta singela homenagem: Prof. Pedro Câncio da Silva, agora Cidadão Emérito de Porto Alegre, é um símbolo marcante de que a hispanidade não possui fronteiras!" Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Reginaldo Pujol está com a palavra. Falará pelas Bancadas do PPR e PFL.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e os demais presentes.) Homenagear o Dia da Hispanidade e entregar o Título de Cidadão Emérito ao Prof. Pedro Câncio da Silva são dois fatos que se interligam por si só e que justificam, de forma harmoniosa, a junção desses dois acontecimentos como motivadora da convocação especial que a Casa Legislativa de Porto Alegre tem no dia de hoje. É uma Sessão Extraordinária com a finalidade específica de, em conjunto, assinalar esses dois acontecimentos extremamente significativos para a vida da Cidade.

O bulício natural da vida legislativa e o desdobrar de inúmeras atividades explicam a razão direta pela qual todos nós, que aqui comparecemos, somos cumulados de responsabilidades ao fazer nossas manifestações. Eu, por exemplo, tenho o privilégio de, além de falar, neste ato, em nome do meu partido - o Partido da Frente Liberal -, ser também distinguido pelo Ver. João Antônio Dib de representar sua agremiação partidária. Certamente, o Ver. João Dib, ao me distinguir com essa honraria, deve ter considerado as minhas origens e, de outra sorte, a circunstância de que nosso homenageado - Pedro Câncio da Silva - é um homem da Fronteira Oeste do Rio Grande, de Uruguaiana, bem próximo da minha Quaraí.

Assim, venho à tribuna somar a pluralidade das nossas posições a esse universo ideológico e filosófico que compõem o cadinho da Câmara Municipal de Porto Alegre, onde as várias correntes de opiniões têm assento e certamente consegue representar a sociedade porto-alegrense, que é multiforme, multirracial e, sobretudo, livre nas suas posturas ideológicas e doutrinárias.

Há pouco tempo, como membro do Rotary Club de Porto Alegre, tive a oportunidade de ouvir o ilustre Cônsul-Geral da Espanha, quando o mesmo, na Sociedade Espanhola, discorreu sobre a integração econômica latino-americana, especialmente sobre o nosso projeto de integração do Cone Sul, o chamado MERCOSUL. Na oportunidade, além de perceber a aprofundada cultura do representante da esquerda em nossa Cidade, tive também a certeza e a convicção de que aquele mesmo espírito que há séculos fez com que a Espanha, da Península Ibérica, espalhasse a cultura européia para o mundo, hoje está tão presente quanto naquela época. Mesmo que não seja de forma tão expressiva e tão hegemônica, como ocorria naquela ocasião, ainda se sente, especialmente neste recôndito do nosso País, onde a expressão espanhola se faz presente a todo o momento.

Disse que sou oriundo da Fronteira Oeste, da minha querida Quaraí. Nasci contemplando a vizinha República Oriental do Uruguai. Alcançavam lá as minhas vistas, posto que a minha casa era numa das barrancas do rio Quaraí. Na convivência da infância, mesclada com a minha ascendência espanhola, que hoje eu posso proclamar na ausência do meu avô - que jamais admitiu ser espanhol, e sim catalão -, nessas duas circunstâncias, eu penso, Ver. Wilton Araújo - grande incentivador e idealizador desta homenagem -, eu busco a inspiração do meu pronunciamento. O Prof. Pedro Câncio da Silva, que é um mestre da língua espanhola, marca algo que nós, descendentes dos antigos colonizadores das Américas, necessariamente precisamos ver acentuado. Indiscutivelmente, aqui no Cone Sul, na pátria do "portunhol", do "brasiguaio", o conhecimento da cultura espanhola é uma imposição até mesmo para a preservação das nossas matrizes e dos fundamentos da nossa história. Por isso, eu compareço a esta reunião especial que a Casa do Povo de Porto Alegre realiza com uma motivação muito especial: a de acentuar, na Capital do Estado do Rio Grande do Sul, a necessidade histórica de ver mantidos esses liames que vinculam a hispanidade ao contexto sócio-econômico do Brasil e, em especial, do Cone Sul brasileiro. Nesta linha, esta Sessão tem um significado muito grande porque, quando Porto Alegre se dispõe pela unanimidade de seus representantes, no seu órgão de deliberação coletiva, outorgar a Pedro Câncio da Silva o Título de Cidadão Emérito da nossa Cidade, ela está consagrando essa intenção e dando uma conformação material da nossa disposição integracionista numa Câmara onde as ascendências são as mais diversas.

Aqui a minha frente, vejo o ilustre Ver. Lauro Hagemann, oriundo da Santa Cruz alemã e que dá a conotação loira numa casa múltipla, onde não só as ideologias se multiplicam, onde não só as doutrinas se confrontam, mas, sobretudo, numa demonstração inequívoca da multicidade racial brasileira.

Neste período de tempo que o expediente determina e que o bom senso recomenda, quero, Ver. Wilton Araújo, irmanar-me com o companheiro, como já o fiz quando da aprovação da convocação desta reunião e da concessão do título ao Prof. Pedro Câncio da Silva, e reafirmar, de coração aberto e alma limpa, especialmente aos inúmeros visitantes que hoje estão presentes, de que aqui, no Legislativo de Porto Alegre, existe uma disposição férrea, uma idéia que se renova no dia-a-dia, uma disposição que se repete a todo instante no sentido de assegurar que o Legislativo de Porto Alegre, que nasceu antes da própria Cidade, sempre tenha condições de criar objetivamente situações específicas que levem a essas maravilhosas circunstâncias em que vivemos, como em situações como essa, em que a gente se reencontra com a nossa história, com os nossos valores, e que se faça, sobretudo, justiça. Justiça à expressão hispânica na nossa formação cultural e justiça a um cidadão que, por se dedicar com afinco a essa atividade como professor, como escritor, como acadêmico, como literato, impõe-se respeito e à consideração de seus cidadãos, de seus conterrâneos da Capital do Estado do Rio Grande do Sul.

Essa Cidade, ilustre Cônsul, que é caracterizada por ser cosmopolita, tem buscado, ao longo do tempo, em todos os quadrantes do Estado, os seus componentes. Certamente, genuínos são os filhos desses que vieram formá-la e, entre esses formadores, muitos espanhóis se encontram, mas, sobretudo, encontra-se gente que encontraram na "mui leal e valerosa Cidade de Porto Alegre" um clima adequado para conviver dignamente, em paz, em harmonia e em fraternidade. É, certamente, ao espírito de integração, de solidariedade humana, ao espírito do apego à liberdade como elemento último a ser buscado em todas as conseqüências que vem, a essa hora, sobressair-se no nosso pronunciamento como objetivo, como finalização e materialização da homenagem que presto à grande Espanha e ao grande Prof. Pedro Câncio da Silva, pela contribuição que deu à cultura espanhola em nosso meio, e à cultura em geral, entre os muitos jovens a quem semeou essa cultura maravilhosa, que veio de além-mar, lá da nossa Espanha, lá da Península Ibérica. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registramos a presença dos Vereadores Lauro Hagemann e Edi Morelli. Informamos que o Ver. Wilton Araújo falou pela Bancada do PTB.

Nesse momento, a Câmara Municipal de Porto Alegre confere o Título Honorífico de Cidadão Emérito a Pedro Câncio da Silva pela valiosa contribuição com o seu trabalho em prol do engrandecimento da Cidade de Porto Alegre - 10 de outubro de 1995.

Para fazer a entrega do Diploma, convidamos o Ver. Wilton Araújo. Convidamos a todos para se posicionarem de pé.

 

(É feita a entrega do Título Honorífico.) (Palmas.)

 

Concedemos a palavra ao Exmo. Sr. Cônsul Geral da Espanha, Iñigo de Palácio España.

 

O SR. IÑIGO DE PALÁCIO ESPAÑA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os membros da Mesa.)

(Lê.)

"Faz mais de quinhentos anos - o que novamente comemoramos no próximo dia 12 - que Cristóvão Colombo descobriu a América, mas pelo que parece ele nunca se deu conta disso porque, como com ironia nos recordava Julián Marias, o mais fiel discípulo de Ortega Y Gasset, toda sua vida acreditou que havia chegado às Índias, à Ásia Oriental. A causa de tão irônico destino não foi a ignorância, senão, paradoxalmente, saber em demasia, porque quando saiu de Palos de Moguer a bordo da Santa Maria, acreditava saber o que iria encontrar do outro lado do oceano. Talvez esta ironia inicial tenha ficado ligada à sorte do Continente Americano. Quase todos os que aqui viemos supomos saber o que nos espera, e a conseqüência é que, às vezes, ficamos com as idéias prévias que trazemos conosco nem sempre acertadas, embora sempre marcadas pelo afeto.

Trago a debate tudo isto por duas razões que, para mim, explicam o sentido profundo do que hoje aqui comemoramos.

Ser hispânico na América, sentir a hispanidade, é precisamente isso: estar intimamente convencido de que, qualquer que seja o engano de percepção a respeito da realidade como a que nós enfrentamos, em nosso ser íntimo sabemos o que temos em comum, que é essa parte da história vivida conjuntamente. É bem verdade que tenho uma profunda convicção: nunca se pode conhecer de um todo, nem em sua raiz, um país que não é o próprio. Somente a força do tempo, do amor e da compreensão das coisas; às vezes um país estranho começa a sê-lo menos e aí se produz algo excepcional, uma dilatação de nossa vida e de nossa personalidade.

Pois bem: esse processo tão subjetivo de conhecimento, percepção e vivência se produz de uma maneira mais rica e diversa para espanhóis e ibero-americanos em nossos respectivos países. Esse é também um atributo do fenômeno do magno intercâmbio cultural histórico que, de algum modo, hoje temos o orgulho de comemorar.

O fato de que a história do Brasil, que por tantas razões nos é tão próxima, esteja vinculada intimamente a Portugal em nada contradiz a vigência desse sentimento comum, agora que está para organizar-se, e já deixou de ser simples projeto faz tempo, uma comunidade ibero-americana de Nações, cujo próximo encontro da cúpula terá lugar em Bariloche na Argentina, a meados deste mês. Em segundo lugar, movia-me a refletir, a princípio, sobre nossa aproximação à realidade ibero-americana, a ocasião que especialmente nos reúne com motivo da distinção de cidadão benemérito ao Prof. Pedro Câncio. Quando tive a oportunidade de conhecê-lo, nada me pareceu desconhecido nele, nada que não mostrasse seu perfeito conhecimento e assimilação da língua e da cultura espanholas. Nesse caso qualquer idéia prévia que pudesse trazer, depois de conhecer seu trabalho, viu-se plenamente corroborada no contato pessoal e assíduo.

A distinção que hoje recebe honra esta Câmara Municipal e a Espanha. Sua difusão de nossa língua e nossa literatura é meritória e se reveste de um especial significado neste Rio Grande do Sul, que é terra de contato com os povos irmãos que em espanhol vivem e se comunicam melhor do que em qualquer outro Estado do Brasil, essa proximidade do espanhol que nesta terra chegou a ser freqüentemente usado, como foi em Portugal nos séculos XV e XVI e prestigiado por escritores e poetas portugueses, como Gil Vicente e Camões, já apresentado na edição de 'Os Lusíadas', de 1639, editada em Madri e dedicada ao Rei Felipe IV, como 'Príncipe dos Poetas da Espanha'.

Com meu afetuoso abraço ao Prof. Pedro Câncio e minha felicitação, receba esta Câmara, em nome dos espanhóis que hoje me honro em representar, nossa sincera homenagem de gratidão por sua lembrança da Espanha e da Hispanidade."

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Registramos, também, a presença do Ver. Isaac Ainhorn.

Passamos a palavra ao homenageado, Sr. Pedro Câncio da Silva.

 

O SR. PEDRO CÂNCIO DA SILVA: Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre. (Saúda os componentes da Mesa.)

(Lê.)

"Duas dificuldades se apresentam no momento de redigir este discurso. A primeira diz respeito ao ser humano e seu fazer histórico, isto é, ao homem como professor. O professor fala, em suas aulas, de conteúdos que estão fora de si. Ele, o professor, está presente na leitura feita a partir de sua visão de mundo. Realiza-se, então, uma crítica participante. O conteúdo é o outro ou está no outro. O professor instala-se no 'locus' enunciador para tratar, refletir com seus alunos outros mundos verbais, estranhos e sempre diferentes. É um jogo que se dinamiza entre convergências e divergências. Estabelece-se um complexo diálogo de sentidos - diálogo e sentido humano, tanto por natureza como por função e circunstância. Esta homenagem a recebo como sujeito e também como objeto. O conteúdo é o próprio sujeito concreto ou está na configuração dinâmica da trajetória do mesmo sujeito. Isto vale dizer que estamos diante da dificuldade de se estabelecer limites do que o homem é e daquilo que este mesmo homem realiza e faz. Conteúdo e realizações dialogam sem conflitos psicológicos: um simples caso de recepção que acontece no outro. Como tal, produz reação, boa ou má, dependendo sempre da qualidade do objeto e das condições do 'locus' da recepção. Como objeto, portanto, a partir do trabalho que realizei, participei de um processo de avaliação, tendo conseguido atender aos critérios que o meu tempo e a minha comunidade traçaram como normas públicas. O meu trabalho é o meu referencial humano. Neste aspecto, aproximam-se, identificam-se. E, nesta conjunção de sujeito e objeto, estou aqui, com toda a simplicidade que me revela como homem e como professor, recebendo esta distinção - o Título Honorífico de Cidadão Emérito.

Incursiono, então, livre de qualquer simulação ou formalidade aparente, no tratamento da segunda dificuldade: tratar de mim mesmo e da minha caminhada. Confesso, senhoras e senhores, como foi difícil, para mim, manejar com uma folha em branco. Nunca, em minha vida, senti tantos e tão grandes bloqueios. As idéias, como as palavras, realizaram danças, vôos acrobáticos no espaço vazio do papel, vencendo as margens em suas dimensões de horizontalidade e verticalidade. Estabeleceu-se, em alguns momentos, uma luta na tentativa de agarrar palavras e dar organização ao pensamento. Tudo em vão. Tudo fluía. De repente, não lutava mais com palavras e idéias, mas povoavam a folha outras formas de vida. De vida, porque se moviam, metamorfoseando-se em estranhas entidades luminosas e sombras ao mesmo tempo. Eram antigos deuses que em meu socorro vinham, trazendo-me a luz necessária para que eu pudesse retroceder às origens deste ser psicológico e deste homem histórico que sou. Sem forças suficientes para vencer a segunda dificuldade - falar de mim em termos de passado, mas que se impõe lembrar -, precisei buscar apoio teórico para voltar no tempo. Foi amparado em Gaston Bachelard, filósofo francês, que fui em busca da concha inicial: voltar a visitar o meu primeiro universo, o verdadeiro cosmos inicial.

'É graças à casa', diz Bachelard, 'que um grande número de nossas lembranças estão guardadas e, se a casa se complica um pouco, se tem porão e sótão, cantos e corredores, nossas lembranças têm refúgio cada vez mais bem caracterizados. Acreditamos conhecer-nos no tempo, ao passo que se conhece apenas uma série de fixações nos espaços da estabilidade do ser, de um ser que não quer passar no tempo, que no próprio passado, quando vai em busca do tempo perdido, quer suspender o vôo do tempo.'

Na viagem que empreendi ao espaço da minha intimidade, lá encontrei deuses verdadeiros e deuses falsos, imagens brilhantes e sombras escuras, oposições sem lutas, que estavam à espera de que eu chegasse e entrasse sem bater. Não tive dificuldades, quando neste interior cheguei, nesta movimentação harmônica, em separar duas entidades, ou seja, meus pais. Com eles renovei um diálogo silencioso e há muitos anos interrompido devido às leis da vida e às circunstâncias da morte.

De meu pai, um homem de instrução primária, eu recordei alguns elementos básicos do seu ir e vir empíricos. Politicamente, era vinculado ao Partido Comunista Brasileiro, proscrito e agindo na clandestinidade. Meu pai faleceu em 1947, apenas completados 31 anos. Ele e seus camaradas - assim se tratavam - realizavam reuniões políticas secretas e à luz de vela onde discutiam a situação do operário brasileiro e suas mazelas, diferente da situação de hoje na intensidade. Atualmente, os problemas são maiores e a miséria corre solta por todos os lados. Lembro dele e do meu primeiro dia de escola, única vez que me acompanhou até a porta do colégio. Não foi levar o filho. Foi acompanhar o filho que completara sete anos e devia começar a participar de outras lides. Lembro que, a partir de então, nas madrugadas de 1º de maio e do dia de aniversário de Luís Carlos Prestes, meu pai despertava-me do sono de menino para irmos à rua, encobertos pela escuridão da noite, a correr e, em disparada, disparar foguetes em homenagem ao trabalhador, no seu dia, e no dia de nascimento do seu grande ídolo. Se lembro das reuniões secretas e dos assuntos que discutiam, é porque eu participava a seu convite, ficando horas a ouvi-los. Meu pai, hoje eu o classifico como um idealista ingênuo.

Minha mãe, uma mulher apenas alfabetizada, ensinou-me a ter fé e a perseverar. É maravilhoso lembrar do diálogo constante que ela mantinha com o tempo. Com o tempo passado no trabalho com modelos. No tempo presente, com a vida presente, a realidade circundante, mas, principalmente, o seu circuito comunicacional se fechava no tratamento do tempo futuro. Era concreto e para isso deveria estar preparado.

E é assim, senhoras e senhores, com um projeto de vida marcado pelas heranças de um idealista ingênuo e por princípios de fé e perseverança de uma mãe atenta, que emigro do regime noturno, isto é, saio dos porões de minha consciência à luz do dia.

Agora o percurso é claro e fácil de ser realizado. A medida é outra e o tempo é universal. Nessas condições, sou avaliado por todos - família, amigos, colegas, etc. Por um capricho de pontuação dada, no regime diurno, é que me encontro nesta situação de homenagem.

Com a crença de que venci as duas dificuldades que se apresentaram no momento de redigir este discurso, eu quero retribuir em forma de agradecimentos.

Agradeço à Câmara de Vereadores de Porto Alegre, através de seu Presidente, Ver. Airto Ferronato, a concessão do Título Honorífico de Cidadão Emérito, agradecimento que estendo aos demais Vereadores desta Casa, e, concentrando-me sensibilizado nas palavras pronunciadas pelo Ver. Wilton Araújo, que propôs meu nome, é que reconheço a sensibilidade dos componentes desta Câmara, tradicional espaço democrático. Digo-lhes, Ver. Wilton Araújo e Srs. Vereadores de Porto Alegre, da Cidade que por opção adotei como minha e que representa o espaço do regime diurno, espaço de semear e também de colher: ara-se a terra; o meio e as intempéries da vida nem sempre permitem que as sementes germinem, mas o trabalho individual, quando realizado com honestidade, é registrado e, portanto, pode ser medido. E por isso estou aqui e agora pleno de agradecimento e de votos de felicidade aos senhores.

Agradeço ao Dr. Iñigo de Palácio España, Cônsul Geral de Espanha em Porto Alegre, e à sua excelentíssima família.

Agradeço à artista plástica Sra. Maria Obdúlia Fayos Garcia, Diretora do Centro Cultural Brasil/Espanha e família, felicitando-os pelo 'Dia de la Hispanidad' e dizendo da satisfação de tê-los como companheiros na difícil tarefa de levar à criança gaúcha o ensino do espanhol como componente formador de sua personalidade.

Agradeço à UFRGS como espaço de reflexão e trabalho, com sua administração formal e orientação acadêmica. Principalmente, agradeço ao Instituto de Letras como um todo - Direção, Corpo Docente, Corpo Discente e funcionários Técnicos Administrativos, onde estou vinculado e dedico meu fazer profissional. Quero congratular-me e dividir as alegrias do momento.

Agradeço aos inúmeros amigos que aqui estão o grande estímulo e, muitas vezes, críticas a meu trabalho.

Agradeço a toda a minha família, principalmente à Dinorah e a meus filhos, aqui presentes, a quem, de coração e emocionado, ofereço o título recebido.

Em 'Grande Sertão: Veredas', Guimarães Rosa afirma que 'viver é muito perigoso'. Ajustando a este momento, penso que viver é muito perigoso, mas pode ser muito bonito. Depende sempre das cores com que cada um bordou sua trilha. Cores claras ou escuras, matizes fortes ou leves. É uma questão de escolha e coerência.

Estou feliz, é verdade. Recebi um título honorífico. Mas saibam, senhoras e senhores, estou mais feliz por ser homenageado em vida e porque posso dizer-lhes diretamente meu muito obrigado."

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Está presente no Plenário o Ver. Clovis Ilgenfritz.

Senhoras e Senhores, em pleno desenvolvimento do MERCOSUL, a data nacional da Espanha tem um significado muito especial para todos nós. Podemos considerar o mês de outubro como marco inicial desse encontro de dois mundos, quando Colombo trouxe consigo o legado da cultura Espanhola para o Continente Americano, e a língua foi um dos maiores legados deixados pelos espanhóis, unindo as diversas nações latino-americanas. A Câmara conferiu, neste ato, o Título de Cidadão Emérito ao Sr. Pedro Câncio da Silva que, de certa forma, personifica o Dia da Hispanidade pelo trabalho incansável que realiza para divulgar a cultura da Espanha através do ensino do espanhol em nosso Estado. A Câmara, através de uma resolução aprovada pelo Plenário no ano passado, instituiu o comitê, um Conselho de Cidadãos Eméritos de Porto Alegre, e nós estamos tratando da instalação desse Conselho. A data da instalação desse Conselho será no dia 14 de novembro de 1995, às 14h, e gostaríamos de contar com a ilustre presença do nosso homenageado neste ato. Nós entendemos ser este Conselho um instrumento importante e valoroso que a Câmara Municipal terá.

Registramos a presença do Ver. Jocelin Azambuja. Nós temos aqui a presença de autoridades do Legislativo, do Executivo e do Poder Judiciário do Estado do Rio Grande do Sul, temos o nosso homenageado, o Cônsul da Espanha, representação da França, Sra. Antonieta Barone, os familiares do homenageado, temos a família, a língua, os povos, a Universidade, temos os poderes, todos para reverenciarmos o trabalho desenvolvido pelo nosso homenageado, o Prof. Pedro, e para reverenciarmos a história vigorosa da Espanha. Viva a Espanha! Parabéns ao nosso homenageado. Agradecemos a presença de todos.

Estão encerrados os trabalhos.

 

(Encerra-se a Sessão às 18h20min.)

 

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